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Foto do escritorAnna Catharina Sena

Quero ser cientista: Olimpíadas de Química

No dia 18 de Junho de 1956, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, promulgou a “Lei Mater dos Químicos” - Lei nº 2800/56 , instituindo em todo o território nacional o Dia do Químico no Brasil. A data constitui um marco importantíssimo para diversos profissionais brasileiros que atuam na área da Química, visto que, além de dispor sobre o exercício da profissão de Químico, proporcionou a criação do Conselho Federal de Química (CFQ) e dos Conselhos Regionais de Química (CRQs).


Em homenagem ao Dia do Químico, hoje, iremos discorrer sobre um jeito divertido de vocês, amantes da química, praticarem seus conhecimentos: as Olimpíadas de Química! Além da importância delas para o seu aprendizado, como participar e dicas de medalhistas que irão lhe auxiliar a se destacarem nas competições.


As Olimpíadas Científicas, conhecidas também como Olimpíadas do Conhecimento, consistem em competições nacionais e internacionais que buscam de uma forma divertida testar os conhecimentos dos estudantes. Além de proporcionarem a valorização do meio científico e permitirem que os jovens identifiquem talentos nas mais diversas áreas, as competições também estimulam os estudantes a aplicarem seus aprendizados na solução de problemas complexos, tirando-os de sua zona de conforto.


Ademais, nos últimos anos, as olimpíadas se tornaram um meio alternativo de ingressar no Ensino Superior. Algumas universidades como USP e UNICAMP oferecem um “vale de ingresso” direto para estudantes medalhistas em determinadas competições científicas, sem que precisem realizar vestibulares (você pode conferir mais detalhes sobre as vagas olímpicas no próprio site da sua universidade).


A olimpíada de maior destaque para a Química é a International Chemistry Olympiad (IChO). Fundada em 1968 na extinta Checoslováquia, atual cidade de Praga. A IChO consiste na principal olimpíada de química a nível internacional, contando, atualmente, com a participação de 80 países, incluindo o Brasil. O seu principal objetivo é estimular o interesse dos alunos pela química por meio da resolução independente e criativa de problemas químicos, além de promover o intercâmbio de experiências pedagógicas e científicas na química.


No Brasil, contamos com inúmeras olimpíadas de químicas, voltadas para todos os gêneros e idades. Contudo, dentre as principais, podemos evidenciar:

  1. Olimpíada Brasileira de Química (OBQ)

  2. Olimpíada Brasileira de Química Júnior (OBQjr)

  3. Olimpíada Ibero-americana de Química

  4. Olimpíada Internacional de Química (IChO)

  5. Olimpíada Norte/Nordeste de Química

  6. Olimpíada Camaleão de Química

  7. Guaxinim Chemistry Olympiad

  8. Torneio Virtual de Química (TVQ)

  9. Olimpíada do Ensino Superior de Química (OBESQ)

Cada olimpíada possui a sua especificidade a fim de atender o público a qual se destina, por isso, os assuntos e o grau de complexidade irão depender do nível de escolaridade a qual a olimpíada abrange. As citadas anteriormente, em sua maioria, são dirigidas para estudantes do Ensino Fundamental II até o Ensino Médio, contudo ainda existem algumas para o Ensino Superior como a OBESQ.


Apesar de não possuírem limitação de gênero, competições desse cunho apresentam uma discrepância significativa no que se refere a participação masculina e feminina, principalmente em relação aos premiados.


Como meio de incentivar a participação feminina nas competições do Programa Nacional Olimpíadas de Química, a Instituição Organizadora desenvolveu o Prêmio Dow de estímulo à participação feminina no Programa Nacional Olimpíadas de Química. O prêmio em si consta com o Troféu Blanka Wladislaw e a Medalha de Ouro "Mulheres na Química" concedida às meninas que obtiveram destaque em cada uma das modalidades de premiação do programa.

Troféu Blanka Wladislaw. Fonte: OBQ, 2018.

O objetivo do programa vem se concretizando ao longo dos anos, visto que, em 2021, as competições de nível estadual obtiveram 56% de seus participantes sendo do sexo feminino.

Fonte: OBQ, 2021.

Embora a presença de meninas participando dessas olimpíadas tenha aumentado, de modo geral, os meninos ainda configuram-se como maior parte dos medalhistas. Um dos fatores que corroboram para a manutenção desse cenário é a falta de incentivo e representatividade feminina, já que muitas garotas se sentem “deslocadas” e desestimuladas nos grupos de estudo olímpicos devido a simbólica presença masculina.


A imagem a seguir mostra o percentual de meninas medalhistas de ouro nas principais olimpíadas científicas do Brasil.


Fonte: UFSM, 2018.

Mesmo com inúmeros obstáculos, algumas meninas encontram nesse cenário uma motivação para modificarem essa realidade e persistem, servindo como fonte de inspiração.


Beatriz Falheiros

Entre essas garotas, destacamos a Beatriz Falheiros de 19 anos, estudante de Medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e uma grande inspiração para as meninas que desejam iniciar sua jornada nas competições.


Durante o seu Ensino Médio no Instituto Federal da Bahia (IFBA), Beatriz colecionou inúmeras premiações em olimpíadas de química: duas medalhas de ouro na Olimpíada Baiana de Química (OBAQ) nos anos de 2018 e 2019, o prêmio de "Aluno Destaque de Escolas Públicas", o prêmio "Professora Nair da França e Araújo" por ser a mulher que mais pontuou nas provas da olimpíada, além de menção honrosa na Olimpíada Norte/Nordeste de Química (ONNEQ) e na Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) no ano de 2019.



Em sua entrevista para o ElaSTEMpoder, Beatriz Falheiros deixou a seguinte dica para meninas que desejam iniciar nas competições:


“Para as meninas que pretendem iniciar nas olimpíadas, eu desejo a vocês muitas vitórias e indico dedicação e persistência. E por tudo que eu desenvolvi com essa experiência, super recomendo que comecem a participar delas o mais rápido possível, apesar de parecer que não pertencemos a esses lugares já que a maioria dos competidores e vencedores são meninos. Só que já estamos acostumadas a passar por isso quase diariamente, então não deveria ser um impasse.


O acesso das mulheres à educação e ao mercado de trabalho foi um passo no caminho em busca da nossa independência e autonomia. Porém, com isso, a cobrança e a pressão por uma performance impecável vieram também: somos sempre vistas como incapazes e incompetentes e precisamos nos reafirmar toda vez e nunca errar para que sejamos reconhecidas. O exercício mental que fiz e faço é o de garantir que o que eu sempre quis ao participar de olimpíadas foi minha própria construção, aprendizagem e fortalecimento, e não pela vontade de provar alguma coisa. Só que como toda competição, o espírito esportivo e a vontade de ganhar também estimulam e podemos usar isso ao nosso favor sempre, ainda mais quando isso pode inspirar outras meninas.”


Arianny Vitória

Outra medalhista de destaque e fonte de inspiração é a Arianny Vitória de 21 anos, acadêmica em medicina do 3º semestre na UFC. Arianny com todo o seu conhecimento e empenho, conseguiu conquistar duas medalhas de bronze em duas olimpíadas de destaque nacional: Olimpíada Brasileira de Química Júnior (OBQjr) e Olimpíada Brasileira de Química (OBQ). Ademais, ela também possui em sua jornada o destaque em 2º lugar na Maratona Cearense de Química e medalha de prata no Torneio Virtual de Química (TVQ). A sua jornada serve de motivação para que cada vez mais meninas compreendam que podem conquistar tudo que aspiram.


Em sua entrevista para o ElaSTEMpoder, Arianny Vitória deixa o seguinte recado para meninas que almejam seguir a vida olímpica:


"Eu falo isso mais como algo que eu mudaria se eu pudesse: se entregar de corpo e alma! As olimpíadas podem nos proporcionar oportunidades únicas, ter a possibilidade de representar o país em uma competição internacional, por exemplo, sem dúvidas deve ser muito gratificante. Eu acredito que na minha preparação tenha faltado um pouco disso de eu realmente me entregar mais e colocar a olimpíada como prioridade, no meu caso, acabava priorizando a escola mesmo. Esse foi um dos meus erros, talvez por conta da falta de maturidade. Mas é importante ter em mente que as olimpíadas representam uma oportunidade que provavelmente nunca teremos novamente, portanto, deve ser muito bem aproveitada. Então, às meninas que pretendem iniciar nas olimpíadas, eu diria que se elas realmente se identificarem com esse mundo, podem se dedicar sem medo de ser feliz, porque realmente essa participação abre um mundo de novas possibilidades e oportunidades."


Com o objetivo de contornar essa realidade de predomínio masculino, alguns projetos buscam fornecer incentivo à participação feminina em Olimpíadas Científicas, seja por meio de mentorias, disponibilização de materiais de estudo ou programas de empoderamento:

Lembrando que esses são apenas alguns, então se você conhecer outros projetos que compartilhem do mesmo objetivo, deixa aqui nos comentários e vamos criar uma rede de oportunidades e inclusão!


Se você possui interesse em matemática também, não deixe de conferir a nossa matéria sobre Olimpíadas de Matemática! E vamos juntas conquistar o mundo!

E sempre que se sentir insegura, lembre-se das sábias palavras da nossa querida Beyoncé:

“Who run the World? Girls!"

Fontes:

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