Imagens femininas começaram a aparecer em cunhagens há milênios atrás e essa tradição continua excepcionalmente importante até hoje.
As moedas da Grécia Antiga apresentavam a imagem da Deusa da Sabedoria, Atena, bem como outras mulheres e deusas. As moedas romanas também tinham divindades como Libertas, a Deusa da Liberdade, e os perfis de mulheres poderosas, como as mães de César.
Avançando rápido de alguns milhares de anos para os dias atuais, a figura feminina continua forte na Numismática (estudo sob o ponto de vista histórico, artístico e econômico das cédulas, moedas e medalhas), frequentemente simbolizando os ideais das nações. Enquanto a caracterização alegórica da Estátua da Liberdade seja um emblema prevalente, principalmente, nos Estados Unidos, muitos países também apresentam figuras femininas metafóricas em sua moeda.
Onde essa tradição começou?
Este conceito de Liberdade tem raízes na Grécia Antiga e na tradição romana, onde prevalecia uma variedade de deuses e deusas adorados e considerados os soberanos de certos valores e aspectos da vida. Eleutheria era tanto a palavra e a divindade grega que representava a Liberdade. Este conceito está fortemente aproximado com a deusa Artemis, cuja imagem era usada na cunhagem na Grécia Antiga. Eventualmente, os romanos atualizaram e renomearam a deusa Libertas. Na sociedade deles, ela representava o ideal republicano de liberdade pessoal, o qual sempre esteve representado por uma imagem feminina na tradição clássica. Não é de surpreender que estas sociedades antigas que estabeleceram a primeira democracia e uma das mais proeminentes repúblicas das história, respectivamente, também idolatrariam os conceitos de Liberdade. Esse princípio e sua representação feminina foram adotadas pelos movimentos Românticos e Naturalistas e foram, por conseguinte, representados no século XIX.
Moedas como Símbolos Políticos
Na monarquia de antigamente, a moeda frequentemente carregava a imagem de um governante, o que reforçava seu poder sobre quem os via - afinal, um indivíduo estaria inclinado a dar crédito ao rei ou personagem que estivesse na moeda usada para comprar sua refeição. Foi por causa dessa associação próxima com a moeda que os “Pais Fundadores” dos Estados Unidos (John e Samuel Adams, George Washington, Thomas Jefferson, George Clymer, Benjamin Franklin, George Tylor e George Rea) decidiram quebrar com essa tradição monetária. Quando a necessidade por uma moeda unicamente americana foi introduzida ao Congresso, foi proposto que o presidente George Washington aparecesse na cunhagem. Eventualmente, foi decidido que ao invés de mostrar um único governante, cada lado da moeda deveria ter a impressão emblemática da liberdade.
A Estátua da Liberdade representa os conceitos da individualidade, beleza e autoconfiança. Este ideal está ao alcance da pessoa comum. As revoluções americana e francesa foram reações a um clima político destinado a capacitar a elite. Essas revoltas acabariam defendendo a representação individual para capacitar a maioria das pessoas, em vez de uma classe dominante ou um monarca específico. Esse distanciamento de uma figura histórica ou de uma classe foi apoiada pelo uso de representações alegóricas nas moedas, como a já mencionada Estátua da Liberdade, a deusa Columbia e a francesa Marianne.
Outras mulheres importantes
Liberdade não é apenas um conceito americano. Na verdade, o país adotou tais ideias das nações europeias.
Essa representação aparece nas moedas francesas na forma da Marianne, uma mulher frequentemente de seios nus usando um barrete frígio (espécie de touca; foi usado pelos republicanos franceses que lutaram pela tomada da Bastilha em 1789). Ela é a representação da França como uma nação a os ideais que ela promove, como liberdade e racionalidade. Ela se tornou uma representação popular durante a Revolução Francesa, a qual influenciou os EUA.
Helvetia, conhecida como a “deusa protetora”, frequentemente aparece na cunhagem suíça, dado que ela representa o país e seus princípios. Ela é frequentemente retratada com cabelos trançados e com uma coroa de flores, o que representa a unificação da Suíça.
Alegorias similares como Ceres, a deusa da colheita, que aparece nas moedas francesas, e Britannia, a deusa do mar e patrona da Grã-Bretanha que até hoje aparece nas moedas britânicas, também celebram conceitos relacionados tais como proteção, renovação e beleza. A francesa Marianne com seu barrete de liberdade e essas figuras relacionadas são todas representações das mesmas convicções: pureza, naturalismo, beleza, poder, resiliência, ação e liberdade.
A Presença Contínua e as Contribuições das Mulheres para a Numismática
A representação alegórica das mulheres na cunhagem tem suas origens na antiguidade e continua uma tradição importante nos dias atuais. A Casa da Moeda dos EUA está atualmente cunhando sua série chamada High Relief Liberty em prata e ouro. Essas representações da Liberdade como mulheres caucasianas e afro-americanas e planos futuros de ilustrações de mulheres asiáticas e hispânicas, sublinham como o nosso conceito sobre a Liberdade está mudando e se tornando mais representativa em relação à sociedade em que vivemos.
Em 2017, a Casa da Moeda dos EUA lançou sua primeira versão da moeda com uma mulher afro-americana. Em 2015, o tesouro americano anunciou planos para incluir retratos de mulheres notáveis nas cédulas.
Não apenas nossa concepção de liberdade está evoluindo à medida que nossa sociedade e cultura evoluem, mas a numismática também está mudando. Agora temos mulheres criando novos designs e visões da Liberdade e da cunhagem em geral, em um campo que historicamente tem sido dominado por homens. Temos mulheres se envolvendo como colecionadoras, negociadoras e escritoras numismáticas em um nível sem precedentes. Estes são desenvolvimentos interessantes para o campo e sugerem novos, diversos e interessantes pontos de vista e, portanto, maneiras de colecionar para o futuro.
Andréa Aline
"Economista ingressando para a carreira de Analista de Dados e fã de atividades físicas e distopias"